O 10 de setembro, reconhecido como o Dia de Prevenção ao Suicídio, é mais do que uma data simbólica: é um chamado para a sociedade encarar de frente um problema que há muito tempo permanece cercado de silêncio e preconceito. Os números são alarmantes e não podem ser ignorados.
A Organização Mundial da Saúde estima que 700 mil pessoas percam a vida anualmente por suicídio em todo o mundo. No Brasil, a situação também exige atenção urgente. Entre 2016 e 2021, as taxas de mortalidade cresceram de forma dramática: 49,3% entre adolescentes de 15 a 19 anos e 45% entre jovens de 10 a 14 anos, segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde divulgados em 2022.
São vidas ceifadas precocemente, sonhos interrompidos e famílias marcadas para sempre por uma dor que poderia ser evitada. O fato de que apenas 38 países no mundo contam com uma estratégia nacional de prevenção evidencia ainda mais o quanto estamos atrasados na construção de políticas públicas efetivas e duradouras.
No Brasil, desde 2014, o Setembro Amarelo, promovido pela Associação Brasileira de Psiquiatria em parceria com o Conselho Federal de Medicina, tem desempenhado um papel fundamental ao levar informação, quebrar tabus e mobilizar diferentes setores da sociedade.
A campanha é essencial, mas não pode se limitar ao calendário de um único mês. A prevenção precisa estar presente nas escolas, nas comunidades, nos ambientes de trabalho e em todos os espaços de convivência social. É necessário que cada município assuma o compromisso de desenvolver estruturas locais de acolhimento e escuta, capazes de atender as pessoas em sofrimento com dignidade e agilidade.
Entretanto, não basta criar centros de atendimento sem garantir a eles as condições adequadas de funcionamento. Infelizmente, em muitos municípios, os serviços de saúde mental existentes – quando existem – enfrentam desafios de sobrecarga de trabalho, falta de estrutura e equipes reduzidas. Profissionais que deveriam ter tempo e tranquilidade para ouvir e acolher acabam esgotados, lidando com jornadas intensas, excesso de demandas e recursos limitados.
Essa realidade prejudica a todos: o trabalhador, que sofre com estresse e desgaste emocional, e o cidadão em busca de ajuda, que encontra um atendimento fragilizado, lento e muitas vezes insuficiente diante da gravidade do seu sofrimento. Para ressaltar a importância de investir na qualidade dos atendimentos, cabe lembrarmos que, em 2024, houve 339 casos de suicídio em Mato Grosso. Esse contexto mostra que o sofrimento mental, mesmo com números avassaladores e preocupantes, ainda é discutido apenas “nos bastidores” familiares e em um nível da política de saúde pública que não contempla a profundidade de cada caso.
Investir em centros municipais de acolhimento bem estruturados não é apenas garantir portas abertas, mas que esses espaços sejam de de cuidado, confiança e transformação.
Mas, se os serviços públicos têm papel essencial, é igualmente importante reconhecer que a família é a primeira rede de apoio emocional. É dentro de casa que muitos sinais de sofrimento aparecem antes de se tornarem crises graves. Mudanças bruscas de comportamento, isolamento, queda no rendimento escolar ou profissional, alterações no sono e no apetite são sinais de alerta que não podem ser ignorados.
A escuta atenta, sem críticas ou preconceitos, faz toda diferença. Muitas vezes, a pessoa que sofre não precisa de respostas prontas, mas de alguém disposto a estar ao seu lado, validando sua dor e demonstrando interesse genuíno pelo que sente.
A família também cumpre um papel fundamental na busca por ajuda profissional. Incentivar o acompanhamento médico e psicológico, acompanhar em consultas, organizar a rotina de cuidados e oferecer suporte prático são gestos que demonstram compromisso com a recuperação.
Mais do que isso, é preciso criar em casa um ambiente de diálogo aberto, onde sentimentos possam ser compartilhados sem medo de julgamento. Famílias que cultivam relações de confiança e acolhimento reduzem significativamente o risco de agravamento de quadros de depressão, ansiedade e outros transtornos.
Portanto, o Setembro Amarelo e o Dia de Prevenção ao Suicídio não devem ser vistos apenas como marcos no calendário, mas como um alerta permanente de que a preservação da vida depende da soma de esforços entre poder público, profissionais de saúde, sociedade civil e famílias. Precisamos transformar campanhas em políticas concretas, estatísticas em histórias de superação e silêncio em diálogo.
Prevenir o suicídio é um ato de humanidade, de responsabilidade coletiva e de compromisso ético com as gerações presentes e futuras.
Deputado estadual Diego Guimarães