PM vendeu caminhonete de casal acusado para ocultar transações ligadas à morte de advogado, diz MPE

O Ministério Público do Estado de Mato Grosso (MPE) revelou um novo capítulo no caso da execução do advogado Renato Nery, assassinado em julho de 2024 em Cuiabá. Segundo denúncia apresentada pelo órgão, o policial militar Jackson Pereira Barbosa, preso desde abril, teria utilizado a venda simulada de uma caminhonete Toyota Hilux para maquiar movimentações financeiras relacionadas ao crime.

A manobra, segundo o MPE, visava justificar o repasse de dinheiro aos supostos mandantes do assassinato: os empresários César Jorge Sechi e Julinere Goulart Bentos, presos desde maio. O veículo teria sido anunciado por meio de um intermediário em Primavera do Leste, numa tentativa de dar aparência legal à transação.

“Era como se fosse pra vender e, na hora que vendesse, o dinheiro seria repassado diretamente”, descreve trecho do depoimento do também investigado Heron Teixeira Pena Vieira, policial militar acusado de participar do esquema.

A motivação do crime, segundo o Ministério Público, seria uma disputa pela posse de terras em Novo São Joaquim, avaliadas em mais de R$ 30 milhões. A área foi transferida a Renato Nery como pagamento de honorários advocatícios. Poucos meses antes de ser morto, ele havia conseguido na Justiça o bloqueio de R$ 2 milhões provenientes do arrendamento da propriedade — o que teria precipitado sua execução.

Além de intermediar a falsa venda da Hilux, Jackson Barbosa é apontado como o operador logístico do assassinato. Ele teria repassado o endereço do escritório da vítima aos comparsas, organizado encontros com os envolvidos e utilizado veículos como uma Hilux SW4 branca e uma Mercedes-Benz nos deslocamentos.

Segundo as investigações, Jackson também foi o responsável por pagar os executores, com uma promessa de recompensa de R$ 200 mil — valor que nunca foi integralmente quitado, gerando desavenças entre os participantes do crime.

A Polícia Civil e o MPE apontam ainda a atuação de outros policiais militares — Leandro Cardoso, Wailson Medeiros, Wekcerlley Benevides e Jorge Rodrigo —, que teriam forjado um suposto confronto armado e plantado a arma usada no crime para dificultar as investigações.

O PM Heron Vieira e o caseiro Alex Roberto de Queiroz Silva, apontado como o executor dos disparos, foram denunciados por homicídio triplamente qualificado. Os empresários César e Julinere também foram formalmente acusados, em 11 de julho, sob as mesmas qualificadoras: motivo torpe, promessa de recompensa e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.

Renato Nery, ex-presidente da OAB-MT, foi baleado na cabeça no dia 5 de julho de 2024, ao chegar em seu escritório na Avenida Fernando Corrêa. Ele chegou a ser socorrido e passou por cirurgia no Hospital Jardim Cuiabá, mas morreu no dia seguinte.

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