Uma falha inusitada levou a polícia a capturar um dos operadores mais discretos do Primeiro Comando da Capital (PCC) fora do Brasil. Everton de Brito Nemésio, conhecido como Delinho, foi preso na noite deste domingo (11/5), em Ponta Porã (MS), na fronteira com o Paraguai. Ele era responsável por intermediar cartas e recados entre líderes da facção presos e os chamados “sintonias” em liberdade.
O erro que entregou o “pombo-correio do crime” foi uma simples assinatura. Em uma mensagem enviada à esposa de um dos chefes do PCC, Delinho agradeceu um vídeo de mensagens religiosas e, ao pedir orações, revelou a própria identidade:
“Muito obrigado pelo vídeo. Palavras sábias. Até me deu um arrepio só de ouvir, cunhada, como se fosse pra mim. Aproveito para pedir a senhora, por favor, apresenta (sic) meu nome e de minha família nas orações da igreja. Meu nome é: Everton Nemésio.”
A carta foi interceptada por policiais da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise), de Mogi das Cruzes (SP), que conseguiram confirmar que o “Delho” mencionado em conversas era, de fato, Delinho — um dos responsáveis pelo setor financeiro da facção fora do país.
Tecnologia, falsas identidades e um erro humano
Mesmo usando recursos para dificultar o rastreamento, como cartões de memória ativados no exterior e identidades falsas, Everton foi traído por um gesto aparentemente simples. Segundo a Polícia Civil, ele mantinha contato direto com Fabiana Manzini, esposa de Anderson Manzini, o Gordo, que disputa poder interno no PCC e é alvo de rivais ligados ao líder histórico Marcola.
Esquema bilionário e infiltração política
As investigações apontam que Everton também tinha ligação com um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado cerca de R$ 8 bilhões. O nome dele aparece em conversas entre Fabiana e João Gabriel Yamawaki, apontado como o operador de um “banco digital do crime”, responsável por 19 empresas de fachada utilizadas para lavar dinheiro, comprar drogas e financiar campanhas eleitorais.
O grupo planejava infiltrar candidatos a vereador em cidades estratégicas de São Paulo, como Ubatuba, Mogi das Cruzes, Santo André, além da Baixada Santista, Campinas e Ribeirão Preto. João Gabriel, primo do Gordo, foi preso em uma operação anterior e também é investigado por articular o braço financeiro do PCC.
A prisão de Delinho representa mais um golpe contra a comunicação e as operações financeiras da facção, e pode abrir caminho para novas descobertas sobre o alcance político e econômico da maior organização criminosa do país.