Não há mais espaço para desculpas. O pagamento da Revisão Geral Anual (RGA) aos servidores públicos de Mato Grosso não é apenas uma questão de justiça — é uma medida urgente para estancar o colapso financeiro de milhares de famílias e reaquecer a economia do estado.
Nos últimos sete anos, os servidores amargam perdas inflacionárias que ultrapassam 35%. São profissionais que mantêm escolas, hospitais, penitenciárias e repartições funcionando, mesmo com salários corroídos pela inflação, enquanto o Estado bate recordes de arrecadação. A conta não fecha — e quem está pagando por essa desigualdade é a população inteira.
Reuniões recentes, envolvendo deputados estaduais, tribunal de contas, federações do comércio e sindicatos, escancararam o que sempre esteve claro: quando o servidor perde poder de compra, o comércio também sente. Na Baixada Cuiabana, o consumo caiu mais de 25% — um número alarmante que evidencia como o empobrecimento do funcionalismo tem reflexo direto na economia local. O comércio não gira, o pequeno empreendedor sofre, a arrecadação cai. O Estado sangra junto com seus servidores.
Valorizar o funcionalismo público não é “gasto”. É investimento. Cada centavo a mais no salário desses profissionais volta rapidamente para os cofres públicos na forma de consumo, tributos e circulação de capital. A folha de pagamento do Estado alimenta padarias, mercados, farmácias, postos de gasolina, escolas particulares, salões de beleza, oficinas mecânicas. Quem ignora isso está deliberadamente escolhendo estagnar o crescimento econômico.
Além disso, há a cobrança injusta da previdência sobre aposentados e pensionistas, que agrava ainda mais a situação de quem já deu sua contribuição ao longo da vida. O Estado precisa olhar para esses cidadãos com responsabilidade e respeito. São pessoas que sustentaram o serviço público por décadas e agora veem sua renda ser dilapidada.
A RGA não é bônus. É reposição de perdas. É o mínimo. E o mínimo precisa ser feito agora.
Estudos técnicos já estão em andamento para demonstrar, com números, o tamanho da dívida do Estado com seu funcionalismo. Mas a verdade é que não precisamos esperar relatórios para saber o que os olhos veem todos os dias: servidores desmotivados, famílias endividadas, comércio retraído, economia emperrada.
O Estado de Mato Grosso precisa entender, de uma vez por todas, que não se constrói desenvolvimento com arrocho salarial. Se quiser continuar crescendo, precisa começar valorizando quem sustenta a estrutura pública com trabalho diário. O pagamento da RGA sonegado é o primeiro passo para virar essa página.
E essa cobrança deve ser feita por toda a sociedade — porque quando o servidor ganha, todo mundo ganha.
Eunice Teodora é presidente do Sindicato dos Profissionais de Nível Superior com Habilitação Específica do Sistema Penitenciário de Mato Grosso (SINPHESP/MT),