“Suplicamos por socorro”: cartas revelam rotina de medo em presídio de Várzea Grande

 

 

A tranquilidade esperada na ala LGBTQIA+ do Centro de Ressocialização Industrial Ahmenon Lemos Dantas, em Várzea Grande, se transformou em medo e desespero. Pelo menos oito detentos, infiltrados no setor, se autointitulam líderes de facção e são acusados de extorquir familiares de reeducandos, exigir depósitos que chegam a R$ 5 mil e impor ameaças de morte.

De acordo com cartas às quais a reportagem teve acesso, três presos assumiram funções específicas no tráfico dentro da unidade: um responsável pela venda de maconha, outro pela cocaína e um terceiro pelas drogas sintéticas. O grupo também ordenaria “salves” e aplicaria torturas como forma de coerção.

Uma das vítimas relatou ter passado quatro dias sob ameaça, sendo obrigada a pedir R$ 5 mil à família para garantir a própria sobrevivência. “Estou com medo de morrer, todo dia sofro ameaças. Venho suplicar por socorro”, escreveu em carta.

Mães também denunciam as extorsões. Uma delas afirmou que os criminosos pediram inicialmente R$ 5 mil, mas após “negociações”, aceitou pagar R$ 1 mil para que o filho não fosse morto. “Aqui fora, como a gente denuncia, se lá dentro continua a mesma coisa?”, questiona.

Medo de novas mortes

As denúncias lembram o assassinato de uma reeducanda trans, em julho de 2024. Thiago Henrique Varcondi, conhecida como Gabi, de 37 anos, foi espancada dentro da unidade e morreu dias depois no Pronto-Socorro de Várzea Grande. Imagens do circuito de segurança mostraram que detentos abaixaram câmeras antes do crime.

Agora, presos da ala LGBTQIA+ pedem que o Raio 4 seja reservado apenas para esse público, sem infiltração de faccionados. “Eles nos agridem e somos nós que vamos para o isolamento. Isso só fortalece a violência. Queremos punição para quem comete os crimes, para que outro LGBTQIA+ não seja morto como a Gabi”, diz outro trecho de denúncia.

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