Suprema Corte da Califórnia mantém condenação milionária contra academia de Jiu-Jitsu por lesão que deixou aluno tetraplégico

O universo do Jiu-Jitsu segue repercutindo a decisão histórica da Suprema Corte da Califórnia, nos Estados Unidos, que manteve a condenação da academia Del Mar Jiu-Jitsu Club, envolvida em um grave incidente ocorrido em 2018. Na ocasião, Jack Greener, então com 23 anos e iniciante no esporte, sofreu uma lesão cervical severa durante um treino supervisionado pelo instrutor faixa-preta Francisco Iturralde, conhecido no meio como “Sinistro”. O acidente deixou o jovem tetraplégico.

Segundo relatos do processo, Greener se preparava para concluir a faculdade e frequentava a academia havia poucos meses. Durante uma sessão de rola, o instrutor aplicou uma técnica de transição que direcionou o peso total do seu corpo sobre o pescoço do aluno, provocando a compressão catastrófica das vértebras cervicais. Especialistas ouvidos no julgamento classificaram o movimento como imprudente, sobretudo por ter sido realizado com um praticante iniciante.

Um dos depoimentos mais aguardados foi o de Rener Gracie, faixa-preta e neto do mestre Hélio Gracie, chamado como perito técnico. Em sua análise, divulgada pelo New York Post, Rener destacou os riscos envolvidos na manobra: “O instrutor aplicou uma técnica que colocou todo o peso do seu corpo no pescoço de Greener, fazendo com que ele perdesse instantaneamente a função dos membros”.

A defesa de Jack Greener alegou negligência grave da academia e do instrutor, acusando-os de expor o aluno a riscos que extrapolam os inerentes ao esporte. A Suprema Corte rejeitou o recurso da Del Mar Jiu-Jitsu e manteve a sentença que condena a instituição ao pagamento de 56 milhões de dólares — o equivalente a cerca de R$ 315 milhões. A decisão é considerada um marco e deve seguir para instâncias federais.

Os advogados de Greener, que hoje atua como palestrante motivacional, comemoraram o resultado: “Uma vitória jurídica crítica não apenas para nosso cliente, mas também para atletas lesionados em toda a Califórnia, ao reafirmar que instrutores e academias podem ser responsabilizados quando aumentam irracionalmente os riscos além do aceitável.”

O caso reacende o debate sobre a responsabilidade técnica e ética de instrutores de esportes de contato. Técnicas envolvendo pressão cervical e transições de controle precisam ser criteriosamente adaptadas ao nível técnico e à experiência dos praticantes. Mais do que transmitir conhecimento, cabe aos professores garantir que o ambiente de aprendizado seja seguro, especialmente para quem está apenas começando no tatame.

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