A disputa bilionária envolvendo o Grupo Marquezam, conglomerado agropecuário sediado em Mato Grosso, ganhou mais um capítulo polêmico. Um consórcio de bancos formado por Rabobank, Paccar, De Lage Landen e Banco ABC Brasil ingressou na Justiça para pedir a destituição da Liberty Administração Judicial, responsável pela condução da recuperação judicial do grupo, cuja dívida declarada ultrapassa os R$ 594 milhões.
A alegação central é a existência de indícios de conflito de interesses e favorecimento no processo. Segundo os bancos, a administradora judicial omitiu do juízo sua relação prévia com os devedores. Um documento anexado aos autos revela que Adonis Fernando Viegas Marcondes, sócio da Liberty, recebeu R$ 50 mil do Grupo Marquezam em agosto de 2024, poucos meses antes de assumir a condução do processo. Esse pagamento, segundo os credores, jamais foi comunicado na nomeação.
Outro fator que chamou a atenção é o momento da criação da Liberty. A empresa foi formalmente registrada em 22 de outubro de 2024, um dia depois de os próprios devedores entrarem com pedido liminar que precedeu a recuperação judicial. Para os bancos, isso levanta suspeitas de um arranjo prévio para favorecer os interesses do grupo em crise.
“Os registros do Livro Caixa Digital do Produtor Rural (LCDPR) mostram claramente o pagamento ao advogado pouco antes do início da recuperação”, diz trecho do pedido encaminhado à Justiça.
Além da quebra de imparcialidade, os credores apontam falhas na condução processual, como a ausência de relatórios mensais obrigatórios e dificuldades de comunicação. Outro ponto grave seria a inclusão irregular de créditos garantidos por alienação fiduciária no processo — prática vedada por lei, já que esses bens não podem ser afetados pela recuperação judicial. Curiosamente, apenas os créditos do Banco Daycoval foram corretamente excluídos dessa relação, o que reforça as suspeitas de favorecimento seletivo.
Diante das denúncias, o juiz Márcio Aparecido Guedes, da 1ª Vara Cível de Cuiabá, determinou no último dia 30 de maio que a Liberty se manifeste em até cinco dias e esclareça os pontos levantados. O magistrado também exigiu que o Grupo Marquezam informe quanto já pagou pelos serviços da administradora, que, conforme decisão anterior, teria direito a receber quase R$ 15 milhões no decorrer do processo.
O Grupo Marquezam, que atua nas áreas de pecuária e agricultura por meio da Nova Fronteira Agro e Logística Ltda. e produtores rurais da família Marquezam da Silva, agora vê seu processo de recuperação cercado por desconfianças e sob os olhos atentos do setor financeiro.
A decisão sobre o futuro da administradora judicial e o andamento da recuperação deve ser conhecida nos próximos dias.