O cantor Marlon Brendon Coelho Couto Silva, conhecido como MC Poze do Rodo, está sendo investigado pela 42ª Delegacia de Polícia (Recreio dos Bandeirantes), no Rio de Janeiro, pelos crimes de tortura e cárcere privado. A apuração corre em sigilo e começou após a denúncia de um homem que alega ter sido mantido preso e espancado dentro da residência do artista, em um condomínio na Zona Oeste da capital fluminense.
Segundo o registro de ocorrência, o episódio ocorreu após MC Poze acusar o homem de furtar um bracelete de sua casa. A vítima relatou ter sido agredida por Poze e um grupo de amigos, sem poder deixar o local. A Polícia Civil chegou a pedir a prisão do funkeiro, mas o pedido foi negado pela Justiça. Durante o interrogatório, Poze permaneceu em silêncio.
Apesar da recusa judicial quanto ao caso de tortura, MC Poze foi preso na última quinta-feira (29/5) por outros crimes, incluindo apologia ao tráfico de drogas e envolvimento com organização criminosa. A prisão ocorreu no contexto de investigações mais amplas que envolvem sua atuação em eventos relacionados ao tráfico no Rio.
Ligação com o Comando Vermelho
Durante os procedimentos após a prisão, o artista confirmou à polícia possuir ligação com o Comando Vermelho (CV) — uma das maiores facções criminosas do país. A informação foi considerada relevante para sua alocação no sistema penitenciário, uma vez que o Estado do Rio adota a prática de separar presos com base em suas supostas filiações criminosas, com objetivo de evitar conflitos entre grupos rivais.
MC Poze foi encaminhado para a Penitenciária Dr. Serrano Neves (Bangu 3A), unidade do Complexo de Gericinó, conhecida por estar sob influência do CV.
Show com fuzis na Cidade de Deus
Outro episódio sob investigação envolve um show de MC Poze na Cidade de Deus, realizado no dia 17 de maio. Imagens divulgadas nas redes sociais mostram homens armados com fuzis dançando no meio do público. Em um dos vídeos, dois fuzis são levantados enquanto o cantor se apresenta no palco.
O evento ocorreu na véspera de uma operação da Polícia Civil que resultou na morte do agente José Lourenço, da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). Ele foi baleado na cabeça durante uma ação contra uma fábrica clandestina de gelo, e morreu após ser socorrido.
Funk proibidão e liberdade de expressão
MC Poze é conhecido como um dos principais nomes do chamado “funk proibidão”, estilo marcado por letras que retratam o cotidiano das favelas e frequentemente mencionam facções criminosas. Músicas como “Me Sinto Abençoado” e “CV, CV, é mais um dia de luta, nós vamo traficar” são apontadas como exemplos de apologia ao tráfico de drogas.
A atuação do artista reacende o debate sobre os limites da liberdade de expressão e a responsabilidade de músicos com grande alcance social. Juristas e autoridades da segurança pública alertam para os riscos de que o conteúdo artístico romantize o crime e fortaleça símbolos do narcotráfico, enquanto defensores da cultura periférica argumentam que o funk retrata realidades negligenciadas pelo Estado.