Lobista preso e advogada na mira: o esquema milionário no judiciário

 

 

A Polícia Federal investiga um suposto esquema de venda de decisões judiciais, tendo como figura central o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves.

A apuração revelou uma transação financeira suspeita envolvendo sua esposa, a advogada Mirian Ribeiro Rodrigues, e outra advogada casada com um desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1).

Segundo um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Mirian transferiu R$ 938 mil para o escritório da advogada Aline Gonçalves de Sousa, esposa do desembargador César Jatahy. A transação, realizada em junho de 2023, foi uma das mais altas movimentações na conta de Mirian, que atua em pelo menos 15 processos no TRF-1.

Procurada, Aline afirmou ter sido contratada para atuar em um processo judicial, mas não deu mais detalhes.

A investigação também identificou que Mirian recebeu R$ 15 milhões da JBS, empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista. O Coaf apontou que os valores são incompatíveis com sua capacidade financeira declarada e que há depósitos mensais da empresa. O banco responsável pelas contas da advogada alertou que os pagamentos da JBS superaram em sete vezes o faturamento de seu escritório.

A JBS confirmou os repasses, alegando que se tratam de honorários advocatícios e que não mantém mais vínculo com Mirian.

O lobista Andreson Gonçalves foi preso em novembro pela PF, enquanto Mirian foi obrigada a usar tornozeleira eletrônica. A defesa do casal afirmou que só se manifestará nos autos e que não há provas de influência em decisões judiciais.

Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou um pedido de liberdade e manteve a prisão de Andreson.

O relatório do Coaf revelou movimentações atípicas de R$ 2,8 bilhões entre 2018 e 2024, envolvendo 802 pessoas físicas e 686 empresas. A PF já obteve a quebra de sigilo bancário dos envolvidos e investiga possíveis conexões com outros tribunais, incluindo o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e os Tribunais de Justiça de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

O caso chegou ao STF após uma transação suspeita envolver uma autoridade com foro privilegiado. O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Shermann foi identificado por uma transferência de R$ 670 para um médico que também recebeu pagamentos de Mirian.

A PF considerou a transação irrelevante para o caso, mas manteve o inquérito sob a alçada do STF, pois pode envolver outras autoridades de alto escalão.

A investigação segue em andamento, e novas diligências podem esclarecer o alcance do esquema e suas ramificações no Judiciário brasileiro.

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