Audiência pública em Rondonópolis dá voz às mulheres contra a violência de gênero

A Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) realizou, nesta segunda-feira (15), uma audiência pública em Rondonópolis para discutir os alarmantes índices de feminicídio e violência doméstica no estado. A iniciativa, conduzida pela deputada estadual Edna Sampaio (PT), faz parte de uma série de três encontros regionais — o primeiro ocorreu em Cuiabá e o próximo será em Cáceres, na quinta-feira (18).

Pelo segundo ano seguido, Mato Grosso ocupa o topo do ranking nacional de feminicídios proporcionais à população. Em 2024, foram 47 mulheres assassinadas por motivo de gênero, equivalente a 2,5 casos por 100 mil habitantes, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Só em 2025, já foram contabilizadas 39 mortes.

O encontro abriu espaço para relatos de mulheres que vivem, no cotidiano, as marcas da violência. A professora de idiomas Marisa Ferreira Barreto, negra e estrangeira de Portugal, emocionou-se ao narrar experiências de discriminação múltipla: “Não é só a violência física que nos atinge. Há o assédio no trabalho, a invisibilidade, a negação de direitos. Minha luta por respeito é diária”, relatou.

A cabeleireira Edmara Urias lembrou de colegas assassinadas em Rondonópolis e defendeu a educação como caminho para transformar a realidade: “A violência contra a mulher precisa ser falada nas escolas, nas empresas, na mídia. Só com políticas públicas firmes e reeducação dos homens vamos impedir que separações ou desentendimentos terminem em tragédia.”

A ex-primeira-dama Neuma Moraes reforçou o papel da coletividade: “Precisamos unir nossas vozes e erradicar a cultura da objetificação. Só com união e coragem construiremos um futuro diferente.”

Já a coronel Grasielle Paes, comandante do 4º Comando Regional da Polícia Militar, chamou atenção para a necessidade de prevenção. “Quando o 190 é acionado, a violência já aconteceu. É essencial denunciar ao primeiro sinal. A sociedade precisa se engajar mais.”

A deputada Edna Sampaio ressaltou que as audiências buscam sistematizar propostas vindas da população e traduzi-las em políticas públicas. Entre os encaminhamentos, estão: ampliar a educação em igualdade de gênero nas escolas, garantir formação específica para servidores no atendimento às vítimas e reforçar o orçamento destinado às políticas para mulheres.

“A violência contra a mulher é reflexo da desigualdade de poder e da cultura machista. Essa luta exige mais mulheres em espaços de decisão e políticas permanentes que assegurem dignidade e liberdade a todas”, concluiu a parlamentar.

Com a próxima audiência marcada para Cáceres, a ALMT reafirma seu compromisso em ser espaço de diálogo e construção coletiva no enfrentamento à violência de gênero.

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