PF aponta movimentações financeiras atípicas de Jair Bolsonaro, Michelle e Eduardo em relatório com indícios de lavagem de dinheiro

A Polícia Federal identificou movimentações financeiras consideradas suspeitas nas contas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O relatório, elaborado a partir de dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), aponta indícios de lavagem de dinheiro, fracionamento de valores e aquisição de moeda estrangeira com o objetivo de ocultar recursos.

Entre março de 2023 e fevereiro de 2024, Bolsonaro registrou R$ 30,57 milhões em créditos e R$ 30,59 milhões em débitos. O fluxo incluiu R$ 19,2 milhões via Pix — em 1,2 milhão de transações — e R$ 8,7 milhões em resgates de CDB/RDB. Também entraram valores por operações de câmbio, previdência privada, proventos e depósitos, sendo o PL, partido do ex-presidente, o maior depositante institucional, com R$ 291 mil.

Do lado das saídas, destacam-se R$ 18,3 milhões em aplicações financeiras, R$ 7,5 milhões em transferências, além de pagamentos de honorários advocatícios, previdência, boletos e despesas de rotina. Entre os principais beneficiários estão o advogado Paulo Cunha Bueno e o escritório DB Tesser, cada um com R$ 3,3 milhões, além de empresas de engenharia e arquitetura.

A PF também analisou movimentações posteriores. De fevereiro a agosto de 2024, Bolsonaro recebeu R$ 1,7 milhão e gastou R$ 1,3 milhão, com repasses a advogados, a Fabio Wajngarten e aos filhos Carlos e Eduardo. Entre agosto e dezembro, foram R$ 872 mil em entradas e R$ 1,2 milhão em saídas. Já de dezembro de 2024 a junho de 2025, as contas do ex-presidente movimentaram R$ 11 milhões em créditos e débitos, incluindo transferências de R$ 2,1 milhões a Eduardo, R$ 2 milhões a um advogado e outros R$ 2 milhões a Michelle Bolsonaro.

O relatório destaca ainda operações de janeiro a julho de 2025. Nesse período, Bolsonaro transferiu R$ 2 milhões a Eduardo Bolsonaro via Pix, sob a justificativa de doações de apoiadores. A PF, porém, classificou a transação como parte de um esquema de financiamento de atividades ilícitas no exterior. Antes disso, o ex-presidente já havia enviado R$ 111 mil ao filho em valores fracionados, prática que buscaria evitar alertas bancários.

Outro ponto levantado pelos investigadores foi a compra de R$ 105,9 mil em moeda estrangeira por Bolsonaro, apesar da proibição de deixar o país desde fevereiro de 2024. Em julho de 2025, agentes encontraram US$ 13,4 mil em espécie durante busca em sua residência. As compras, feitas de forma reiterada e fracionada, teriam como objetivo criar uma reserva financeira não rastreável para eventual evasão.

As movimentações envolveram também a ex-primeira-dama Michelle e a esposa de Eduardo, Heloísa Wolf Bolsonaro. Em 4 de junho de 2025, um dia antes de depor à PF, Bolsonaro transferiu R$ 2 milhões para a conta de Michelle. Eduardo, por sua vez, repassou R$ 200 mil para Heloísa em maio e junho do mesmo ano, quando ela se encontrava com ele nos Estados Unidos. Para os investigadores, a estratégia configurou tentativa de “escamotear valores” e usar a conta da esposa como “conta de passagem” para proteger recursos de bloqueios judiciais.

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