Trump ameaça tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e ataca STF em defesa de Bolsonaro

A crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos atingiu seu ponto mais tenso desde o retorno de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência. Por meio de uma carta oficial endereçada ao Palácio do Planalto, o presidente norte-americano, Donald Trump, ameaçou impor uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras para os EUA a partir de 1º de agosto de 2025. No documento, Trump ainda fez ataques diretos ao Supremo Tribunal Federal (STF) e criticou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

A ofensiva ocorre em meio às tensões provocadas pela recente cúpula do Brics, realizada no último fim de semana, onde os países-membros discutiram a possibilidade de substituir o dólar por moedas locais em transações comerciais a longo prazo. A ideia irritou Washington e expôs o desgaste diplomático entre os dois governos.

Trump divulgou a carta também em sua rede social, a Truth Social. No texto, ele acusa o STF de censura e defende Bolsonaro, classificando o julgamento como “uma vergonha internacional” e “uma caça às bruxas que deve acabar imediatamente”. A carta mistura ataques políticos e argumentos econômicos para justificar a nova tarifa, alegando “desequilíbrio nas relações comerciais” e citando que os EUA estariam em desvantagem — apesar de dados oficiais apontarem superávit americano de US$ 7 bilhões em bens e de US$ 28,6 bilhões considerando também serviços em 2024.

Horas antes da carta, a crise havia escalado com a divulgação de uma nota da Embaixada dos EUA no Brasil, na qual Bolsonaro foi chamado de “amigo dos Estados Unidos” e sinalizou que novas sanções poderiam ser discutidas. O Palácio do Planalto reagiu convocando o encarregado de negócios da embaixada, Gabriel Escobar, já que o posto de embaixador está vago.

Em postagem no X (antigo Twitter), Lula repudiou a ingerência do governo americano. “O Brasil é um país soberano, com instituições sólidas e não aceita ameaças nem interferências externas”, escreveu o presidente.

Setores econômicos reagem

As ameaças de Trump provocaram reação imediata de setores produtivos brasileiros. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) alertou que as medidas podem afetar empregos e a produção no Brasil, mas também prejudicar consumidores e empresas americanas com o aumento dos preços internos.

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), avaliou que a tarifa de 50% inviabiliza o comércio de manufaturados com os EUA e pode levar à suspensão de embarques. A Frente Parlamentar da Agropecuária classificou a medida como “alerta ao equilíbrio das relações comerciais”. Já o presidente da Abicalçados, Haroldo Ferreira, lamentou os prejuízos para o setor calçadista.

Pressão política e diplomática

A carta de Trump reforça os sinais de alinhamento político com Bolsonaro e a ala conservadora brasileira. Na véspera, Steve Bannon, ex-estrategista da Casa Branca e aliado de Trump, havia defendido abertamente sanções ao Brasil em seu canal de internet, após entrevistar o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, que busca apoio em Washington.

As entidades brasileiras e o Itamaraty defendem a retomada do diálogo diplomático como única saída viável para reverter a crise. A expectativa é de que o governo brasileiro mantenha firme a posição de defesa da soberania nacional e da independência dos Poderes, evitando o isolamento comercial e político no cenário internacional.

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