Inclusão às margens: população com deficiência denuncia abandono em Cáceres

 

 

Realizada na última sexta-feira (28), na Câmara Municipal de Cáceres, uma audiência pública promovida pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) escancarou a invisibilidade e os desafios vividos pelas pessoas com deficiência no interior do Estado. Proposta pela deputada estadual em exercício Professora Graciele (PT), a reunião contou com a presença de autoridades, representantes de conselhos, mães atípicas e cidadãos que, com os próprios corpos e histórias, deram rosto a um problema crônico: a falta de políticas públicas estruturadas.

“A inclusão só é possível com escuta e ação. A sobrecarga das mães atípicas, a ausência de dados e a negligência com acessibilidade exigem respostas urgentes”, defendeu a deputada.

Segundo ela, a audiência será formalmente transformada em relatório com propostas de políticas públicas e será encaminhada às esferas municipal, estadual e federal com pedidos de providências e fiscalização. Entre as pautas prioritárias estão: saúde mental, apoio aos cuidadores, lazer acessível, educação especializada, mercado de trabalho inclusivo e infraestrutura urbana adaptada.

“Meu filho não consegue sair de casa sozinho”

A presidente do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, Cícera Alves Feitosa, fez um apelo dramático por visibilidade e dignidade. “Sem dados, não existimos. Um cadeirante não consegue se locomover sozinho em Cáceres. Nem intérprete de Libras temos nas reuniões do conselho. Precisamos de um censo, de orçamento, de respeito”, pontuou.

Ela também destacou a importância do Projeto Paralímpico da Unemat, uma das poucas iniciativas públicas que oferecem acolhimento e oportunidades de convivência para pessoas com deficiência no município. “O projeto salva”, resumiu.

Fátima Gonçalves, mãe de Laila Fernanda, de 23 anos, emocionou o plenário ao compartilhar os desafios de criar uma filha com deficiência intelectual. “Com o apoio da Unemat, minha filha conseguiu evoluir e hoje é acadêmica de Biologia. Mas nossa rotina é exaustiva. Espero que essa audiência inspire novas políticas”, disse.

O defensor público Antônio Goes de Araújo afirmou que, em muitos casos, a Defensoria é obrigada a recorrer à Justiça para garantir direitos básicos. “O que é previsto em lei ainda precisa ser judicializado. É absurdo. Mas essa audiência é um passo essencial para mudar esse cenário, principalmente em cidades do interior”, declarou.

O vice-prefeito de Cáceres, Luiz Landim (União), garantiu que o município pretende estruturar uma rede de atendimento especializada. A pró-reitora da Unemat, Nilce Maria da Silva, destacou o papel das universidades no fortalecimento da inclusão por meio da formação e da pesquisa.

“Cáceres precisa de planejamento, orçamento e vontade política. Sem isso, a inclusão continua sendo apenas um discurso bonito e vazio”, concluiu Professora Graciele.

 

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