Enquanto os brasileiros enfrentam contas de luz mais altas devido à bandeira tarifária vermelha, um levantamento recente do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) revela que diversas hidrelétricas pelo país estão liberando grandes volumes de água de seus reservatórios sem que essa água seja utilizada para a geração de energia.
De acordo com apuração do portal MidiaJur, a prática, chamada de “vazão vertida”, foi registrada em 37 usinas hidrelétricas nas últimas semanas — mesmo com afluências abaixo da média nacional. O quadro é mais grave em bacias como as do Uruguai, Jacuí e Capivari, onde o índice de vertimento supera 38% das usinas instaladas.
Entre os casos, a Usina de Machadinho Engie, em Santa Catarina, apresentou uma vazão fluente de 202 m³/s, dos quais 125 m³/s foram liberados diretamente pelos vertedouros, sem passar pelas turbinas. Situação semelhante ocorreu na Corumbá III, em Mato Grosso do Sul, onde, no dia 8 de junho, a usina recebeu 41 m³/s e verteu 178 m³/s. Já a usina de Sinop CES, no Mato Grosso, liberou 184 m³/s de um total de 747 m³/s.
A consequência direta dessa operação é a necessidade de acionar usinas termelétricas, que utilizam fontes mais caras para produzir energia. Esse custo adicional é repassado ao consumidor por meio do sistema de bandeiras tarifárias. No patamar vermelho 2, a cobrança extra chega a R$ 7,877 para cada 100 kWh consumidos. Para uma residência com gasto médio de 200 kWh por mês, isso representa um aumento de aproximadamente R$ 15,75 na conta de luz.
O sistema de bandeiras tarifárias foi criado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em 2015 para informar os consumidores sobre o custo real da geração de energia. As cores — verde, amarela e vermelha — indicam se as condições de produção estão favoráveis ou se exigem o acionamento de usinas mais onerosas.
A liberação de água sem geração de energia, ainda que necessária em situações específicas como controle de cheias, manutenção ou redução de demanda, levanta questionamentos sobre o uso eficiente dos recursos hídricos e a gestão energética no país, especialmente em um momento de tarifas elevadas e maior pressão sobre o bolso do consumidor.