Na mira da PF e do Coaf, ele diz que transações com Maurício Camisotti seriam “antecipação de honorários”; operação já levou à queda de presidente do INSS e ministro da Previdência
Investigado pela Polícia Federal (PF) por envolvimento no esquema bilionário de fraudes contra aposentados do INSS, o advogado Nelson Wilians admitiu a interlocutores que os valores movimentados em transações com o empresário Maurício Camisotti — um dos principais alvos da investigação — vão além dos R$ 15 milhões já identificados. Segundo ele, tratam-se de antecipações de honorários advocatícios, prática considerada incomum em valores tão altos.
De acordo com fontes ligadas à apuração, documentos apreendidos com Camisotti podem comprovar que as operações financeiras entre os dois são ainda mais volumosas. Camisotti é suspeito de ser o “beneficiário final” dos descontos irregulares feitos por três entidades envolvidas na chamada “farra do INSS”.
O escândalo foi revelado a partir de dezembro de 2024 pelo portal Metrópoles, motivando a abertura de inquérito pela PF e investigações da Controladoria-Geral da União (CGU). Após a deflagração da Operação Sem Desconto, em 23 de abril, o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi demitido, e o ministro da Previdência, Carlos Lupi, deixou o cargo.
💸 R$ 4,3 bilhões em operações suspeitas
Relatórios do Coaf indicam que o escritório Nelson Wilians Advogados movimentou R$ 4,3 bilhões entre 2019 e 2024, sendo R$ 449 milhões apenas entre outubro de 2023 e julho de 2024 — período em que o esquema atingiu seu pico.
O Coaf identificou pagamentos diretos de R$ 15,5 milhões do advogado para Camisotti, incluindo a compra de um imóvel usado para ampliar o jardim da mansão de Wilians, em São Paulo. Ambos também mantinham relações profissionais: o advogado defendeu entidades ligadas a Camisotti, como a Ambec e a Prevident, em ações envolvendo o Geap — plano de saúde dos servidores federais.
A Ambec, que tinha apenas três associados em 2021, chegou a 569 mil em 2024, com arrecadação mensal saltando de R$ 135 para R$ 30 milhões. Tudo por meio de descontos diretos em folha, prática que está no centro da fraude investigada.
📞 Contato antecipado com a PF
Após a operação, Nelson Wilians procurou a Polícia Federal de forma espontânea para explicar as transações com Camisotti. O gesto, segundo aliados, teria sido motivado pelo receio de novas medidas cautelares. Ainda assim, ele segue sendo investigado por possível lavagem de dinheiro e participação no esquema de fraudes previdenciárias.