A Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador dos Estados Unidos, aprovou pela primeira vez o uso de porcos geneticamente modificados com a tecnologia CRISPR-Cas9 para a produção de carne destinada ao consumo humano. O avanço, considerado um marco na biotecnologia alimentar, tem como foco aumentar a resistência dos animais à peste suína clássica (PSC), uma das doenças virais mais graves que afetam a suinocultura mundial.
Os animais foram desenvolvidos pela Pig Improvement Company (PIC), em parceria com a Genus, líder global em genética animal. Por meio da edição genética CRISPR, os cientistas conseguiram desativar um receptor celular que o vírus da PSC utiliza para infectar os suínos, tornando-os significativamente mais resistentes a todas as cepas conhecidas da doença. A modificação é feita ainda nos embriões, permitindo que a característica seja transmitida às futuras gerações.
Impacto econômico e sanitário
A peste suína clássica é altamente contagiosa e causa febre, problemas respiratórios e reprodutivos nos animais, além de enormes prejuízos econômicos. Apenas entre 2016 e 2020, estima-se que a doença tenha causado perdas de até US$ 1,2 bilhão para a indústria suína norte-americana.
A expectativa é que os primeiros cortes de carne desses porcos cheguem ao mercado dos EUA a partir de 2026. Até lá, a PIC e a Genus trabalham para obter autorizações em outros importantes mercados, como México, Canadá e China, responsáveis por grande parte da produção e consumo global de carne suína.
Produção suína nos Estados Unidos
Atualmente, os Estados Unidos ocupam a terceira posição no ranking mundial de produção de carne suína, atrás apenas da China e da União Europeia. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), mais de 125 milhões de suínos são abatidos anualmente no país, com destaque para os estados de Iowa, Minnesota, Carolina do Norte, Illinois e Indiana.
A introdução dos animais geneticamente modificados promete tornar o setor ainda mais eficiente, reduzindo perdas sanitárias, diminuindo o uso de antibióticos e fortalecendo a segurança alimentar. Além de atender o mercado interno — onde o consumo per capita de carne suína varia entre 23 e 25 kg por ano —, os EUA também exportam para destinos exigentes como Japão, Coreia do Sul e México.
Avanço regulatório
Embora o FDA já tenha aprovado em 2020 os porcos GalSafe, modificados para eliminar um açúcar associado a reações alérgicas em humanos, essa é a primeira aprovação de um animal geneticamente editado especificamente para resistir a doenças. Um passo considerado decisivo para o futuro da produção de proteína animal mais sustentável e tecnificada.