No dia 31 de março de 1999, um crime audacioso em Cuiabá (MT) marcou o início da trajetória pública de um dos criminosos mais temidos do país. Marco Willians Herbas Camacho, conhecido como Marcola, liderou um roubo a uma agência do Banco do Brasil que resultou no desvio de aproximadamente R$ 6,1 milhões. Anos depois, Marcola se consolidaria como o líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), a maior facção criminosa do Brasil.
Segundo relato de um oficial da Polícia Militar ao site Midiajur, que teve contato com o criminoso durante sua detenção na Penitenciária Central do Estado (PCE), Marcola se vangloriava frequentemente do roubo em Cuiabá. De acordo com o policial, ele afirmava com orgulho que até hoje nenhuma quantia do valor roubado foi recuperada pela polícia.
O oficial, que trabalhava dentro da unidade prisional, relembra que Marcola mantinha conversas constantes com os agentes penitenciários. Em uma delas, estava acompanhado de um comparsa especializado em armamentos, que chegou a questionar alterações feitas nas armas dos policiais.
Advogado para compras e fuga pela porta da frente
Durante uma audiência no Fórum Criminal de Cuiabá, Marcola demonstrou despreocupação com a situação judicial. Segundo o PM, o criminoso disse ter contratado um advogado local apenas para “comprar mantimentos” na prisão. A defesa de verdade, como afirmava com tranquilidade, viria de São Paulo.
Em uma conversa informal, ele ainda destacou a inteligência do plano de fuga com o dinheiro: “Vocês tinham que ver como tiramos o dinheiro daqui. Foi uma sacada de mestre”, teria dito. Apesar das constantes provocações, Marcola nunca deu qualquer pista sobre o paradeiro da quantia.
Pouco depois do roubo, Marcola foi preso em Porto Velho (RO) junto ao comparsa Jefferson Nunes de Andrade, portando uma identidade falsa. Mesmo assim, sua permanência em solo mato-grossense durou pouco: fugiu pela porta da frente da penitenciária, em circunstâncias até hoje pouco esclarecidas.
Quem é Marcola?
Natural de São Paulo e atualmente com 56 anos, Marco Willians Camacho teve os primeiros envolvimentos com o crime ainda na juventude. O apelido “Marcola” surgiu nos tempos em que vivia nas ruas da capital paulista, cheirando cola na região da Praça da Sé.
Nos anos 2000, Marcola ganhou notoriedade ao assumir a liderança do PCC. Sob seu comando, a facção passou por uma reestruturação, priorizando o tráfico de drogas como fonte principal de renda e promovendo a descentralização do poder. A organização, que surgiu em 1993 como uma resposta às condições das prisões paulistas, transformou-se em uma verdadeira “empresa do crime”, com atuação nacional e até internacional.
Mesmo após décadas, o roubo de Cuiabá permanece envolto em mistério — e serve como um retrato do início da ascensão de um dos maiores chefes do crime organizado no Brasil.